"O universo não foi feito à medida do ser humano, mas tampouco lhe é adverso: é-lhe indiferente." (Carl Sagan)

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

O que faz um grande solo de guitarra?

Talvez você esteja contente em tocar apenas alguns ‘power chords’ com atitude em sua Gibson Les Paul (ou uma cópia de Les Paul), tendo dominado seus acordes ‘A, C, G’, ou talvez você esteja feliz em tocar algumas músicas pop em acordes abertos num violão. Mas, e se isso não for o suficiente? E se você sonha com dias de glória de um solo poderoso de guitarra, e quer tocar como seus heróis? Vamos encarar: quantos de nós ainda estamos interessados em grandes solos de guitarra? Então o que faz um grande solo de guitarra? Bem, eu tenho pensado sobre algumas idéias que acho que podem fazer um solo soar legal.
Primeiramente, para mim é tudo questão de fazer sua guitarra contar uma estória. Quando existem vocais, eles estão contando uma estória, e as pessoas escutam as palavras para captarem essa estória. Então, quando o vocal pára e a guitarra assume, ela deveria ter sua própria estória para contar. Levar o ouvinte a uma jornada além das notas que você toca. Não importa o quanto rápido você toque, ou o seu visual, você vai perder os ouvintes bem rápido se eles não sentirem um padrão, ou não sentirem que o instrumentista está levando eles a algum lugar. Use a guitarra para criar um clima. Para isso, escolha a escala ou modo certo para atingir o tipo de clima que você deseja criar.
E o que você não toca é tão importante quanto o que você toca. Deixe espaços p/ respirar, e tente não encher de notas. David Gilmour, guitarrista do Pink Floyd é mestre nisso. Nunca tocando demais, ele parece ter uma brilhante aptidão em achar somente as notas certas para contar uma estória hipnotizante a cada solo. Você não poderia dizer que ele tem dedos de relâmpago, ou frases na velocidade da luz, mas solos como os dois em "Comfortably Numb" ou aqueles em "Another Brick in the wall pt 2" e "Time" ficarão como alguns dos mais incríveis de todos. E que sentimento! Alguns bends enormes e elásticos foram marcas registradas. O que me faz lembrar: Bends são ótimos, mas pratique-os até que você os faça precisamente afinados, porque uma corda pouco ou muito erguida por um bend não será um som muito legal para a maioria de seus ouvintes. Porém, um bend lento ou rápido feito corretamente é uma qualidade para qualquer solo.
Além disso, tente desenvolver um vibrato legal para usar em notas longas. E daí, se você ficar realmente bom nisso, você pode tentar adicionar esse vibrato no final de alguns dos seus bends, antes de voltar a corda na posição original. Alguns guitarristas têm um vibrato bem rápido, outros mais vagarosos. Brian May é um grande músico para se estudar o vibrato.
Fique familiar com as escalas e modos, e tente aprender a tocá-los em diferentes posições. Além disso, aprenda as notas no braço em todas as cordas, assim você poderá pensar conscientemente quais notas servirão à estrutura do acorde e da harmonia. Pode soar legal tocar uma escala numa só corda, com ligaduras, subindo ou descendo o braço. Mas você precisa conhecer as notas para tocar, do contrário não soará tão legal assim. Então memorize o braço e as notas de cada corda.
Falando de ligaduras, coloque-as de maneira correta num solo, mas tente também usar notas palhetadas e algumas notas longas, com bends e vibratos para dar efeito e variação. Quando ligar notas, é importante (assim como quando palhetar) que cada nota seja ouvida distintamente, e não uma mistura suja de notas que são indecifráveis aos ouvintes. Procure terminar cada frase numa nota tônica, ou que seja legal dentro da harmonia. A última nota de um solo deve ser a mais memorável, então a torne suave para voltar ao próximo verso, ou o que quer se venha depois.
Os pontos principais para mim quando solar são:
a) Não sobrecarregue. Lembre-se de que a maioria dos ouvintes não são outros guitarristas impressionados por velocidade e glamour, e sim pessoas comuns que querem ouvir melodia.
b) Seja preciso em tudo o que fizer. Diminua a velocidade se isso for o necessário para fazer cada nota ser ouvida claramente.
c) Pense melodia, estória, jornada para algum destino, musicalmente.
d) Mantenha seu timbre e sua afinação corretos.
e) Use efeitos que complementam a música. Tempos corretos de delay e reverb, etc, e não exagere. Uma guitarra e um amp legais são um bom começo para um bom som no geral.
f) Seja confiante e enérgico, ou lento, caprichoso e reflexivo. Pense no que a música precisa, e então toque de acordo. Não tente colocar todos os seus truques em cada solo.
Bem, espero que tenha ajudado. Uma boa idéia é ouvir atentamente alguns dos melhores guitarristas, e solos clássicos, e tentar copiá-los por sua própria conta analisando o que os torna tão bons.
E se tudo isso falhar, pegue uma furadeira elétrica e toque seus solos com ela. Ou use um arco de violino, use seus dentes ou compre uma guitarra de plástico com músicas pré-programadas nela. Mas o que quer que faça, divirta-se!
Texto: Tony Koretz
Tradução e adaptação: Osmani Jr.

3 comentários:

  1. Cara, muito legal seu post, sou guitarrista também... tenho uma memphis stratocaster muito boa por sinal, se adapta as minhas necessidades e uma coisa que eu não sei é dar um destino aos solos shuasu, vou rever meus conceitos com mais atenção, obrigado pelas suas dicas

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  2. Muito bom o artigo, parabéns..
    Só para acrescentar sobre David Gilmour, que aliás voce descreveu certinho, o solo da música Dogs no disco Animals, é simplesmente espetacular, que além dos solos variados e antológicos desta música, Gilmour canta com maestria...

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  3. Certeza...Dogs talvez seja a minha preferida....

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